Sozinho no escuro: Uma situação que aterroriza praticamente qualquer ser humano. Este foi o nome escolhido para uma série memorável dos jogos eletrônicos cujo primeiro título foi lançado em 1992 e portado magistralmente para o 3DO um ano depois. Responsável por inaugurar o gênero Survival Horror, possui elementos únicos jamais igualados pelos games que o seguiram.
A Mansão Derceto (cujo nome representa a deusa síria Atargatis, patrona da existência) é localizada no estado americano da Louisiana e foi sempre considerada extremamente assombrada. Não houve surpresa quando um dia, em 1924, seu dono, Jeremy Hartwood foi encontrado após ter cometido suicídio. E também não foi surpresa que a culpa dos tormentos daquele homem recaísse sobre a própria mansão, tornando o caso de fácil solução para a polícia e para cair no esquecimento de todos.
Tudo inicia pouco depois do encerramento das investigações sobre a morte de Hartwood, ainda nos anos 20. O jogador pode escolher o detetive
Edward Carnby (que virou o protagonista oficial da série) ou a sobrinha de Hartwood, Emily. O nome do detetive e da mansão, bem como parte dos eventos são baseados em uma suposta história real ocorrida nos EUA. Apesar do jogo com quaisquer um dos personagens ser o mesmo, ambos entram em Derceto por motivos diferentes: Carnby procura um antigo piano no sótão à pedido de um antiquário, enquanto Emily investiga a morte do tio e vai até a mansão para encontrar um suposto bilhete de suicídio deixado em um compartimento secreto no mesmo piano.
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Tela inicial, escolha de personagens e o início de uma noite memorável |
O destaque maior em Alone in the Dark é sem dúvidas a Mansão Derceto. Documentos obtidos durante o game nos ensinam que foi construída por um pirata do século XVII chamado Ezechiel Pregzt no topo de um complexo de cavernas e utilizada por anos em rituais negros para tentar prolongar sobrenaturalmente sua vida, além de aumentar suas riquezas. Isto a transformou em um lugar genuinamente ruim, um habitat retirado de pesadelos.
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Os ambientes são perigosos: Esta pintura de índio vai matá-lo com uma flechada assim que você sair da vista dela. |
O jogo é severamente influenciado pelas obras de
Edgar Allan Poe e
H.P. Lovecraft. A mansão lembra muito a retratada na obra de Poe "
A Queda da Casa de Usher", enquanto documentos na mansão, como o
Necronomicon e o
The Vermis Mysteriis e também aparições são elementos tirados diretamente dos
Cthulhu Mythos . Há um horror, um mal latente em cada corredor e andar de Derceto, bem como seus subterrâneos.
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O horror Lovecraftiano é forte no game |
Falando em documentos e livros, há muitos no jogo. Mas nada de bilhetes e notas como em Resident Evil e sim obras extensas com várias páginas e áudio narrado em off. Obras estas que você precisa ler, pois sem isto não será possível resolver os enigmas cabulosos e mortais da mansão.
Os puzzles são extremamente difíceis e carecem de uma interpretação minuciosa (as vezes encontradas apenas nas entrelinhas) dos textos e cartas encontrados, do contrário tornam-se impossíveis de resolver, mesmo pelo mais experiente jogador.
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Preste atenção e colete tudo o que encontrar. Em algum momento o item mais insignificante pode salvar a sua vida |
Você encontrará poucos porém mortais inimigos, de novo, este não é Resident Evil ou Silent Hill. O horror em Alone in the Dark é algo mais subjetivo. Está impregnado nas paredes de Derceto e em suas armadilhas. Alguns oponentes inclusive, para serem vencidos, dependem da resolução de enigmas pois não morrem com socos, tiros e pontapés. Além disso a munição é limitada e espadas, flechas e lanças quebram com o uso. Aproveitando a deixa, é preciso dizer que infelizmente a jogabilidade envelheceu mal, é extremamente datada e limitada. O personagem movimenta-se no estilo "tanque", e para mudar seu padrão de comportamento, de por exemplo, investigativo (procurar, pegar) para ação (lutar) ou atirar, é preciso uma pausa e uma visita ao menu. O que é bastante frustrante.
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Acesse o menu para mudar o comportamento do personagem |
Por outro lado, graficamente o game envelheceu bem, até mesmo os personagens, pois apesar de serem modelados com pouquíssimos polígonos e possuírem uma movimentação pouco inspirada, tem também um estilo único. Os ambientes são bastante coloridos e as câmeras fixas, mas muito bem posicionadas. A trilha sonora e os efeitos são excelentes e assustadores.
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ângulos cinematográficos: Pioneirismo |
Alone in the Dark 2 também foi lançado para 3DO, mas a série no console acabou por ali. A série continuou no PC e em outras plataformas, mas a qualidade foi caindo com o passar dos anos.
Puristas consideram apenas até o terceiro (lançado apenas para PC) como uma verdadeira sequência da série, visto que embora inferior, o estilo é similar aos outros. Os demais (apesar do título de 2001 ser bastante interessante), não fazem jus a franquia. Há até
um filme terrível dirigido por
Uwe Boll em 2005.
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Passados mais de 200 anos, Pregzt, unido de forma macabra a uma árvore nos subterrâneos da mansão, ainda aguarda um corpo para retornar a vida |
Alone in the Dark para 3DO permanece como a melhor versão deste clássico e você merece jogá-lo pelo menos uma vez na vida.
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No Brasil: Comum
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Edições completas de Alone in the Dark, americana e japonesa, respectivamente. |